quinta-feira, 10 de setembro de 2015



13ª edição do "Livro de Graça na Praça". Dia 13 de setembro, na Praça Santa Tereza - Belo Horizonte.
Distribuição gratuita de livros e encontro com os autores.
Livro de contos e versos:
DITADOS, PROVÉRBIOS E DITOS POPULARES
Em prosa e verso
Livro infantil
LER É BRINCAR
Cordel
DEBATE ENTRE O CEARENSE E O MINEIRO
Edésio Batista e José Mauro

Provérbios, Ditados e Ditos Populares (prosa e verso): 
Affonso Romano de Sant´Anna, Ana Luiza Libânio, Anilda Figueiredo, Antônio de Faria Lopes, Arthur Vianna, Bruno Terra Dias, Beto Vianna, Carlos Eduardo Leão, Cícero Christófaro, Cida Chaves, Christian Coelho, Christina Ramalho, Dagmar Braga, Emerson Fidelis Campos, Eugênio Ferraz, Everaldo Chrispim, Fabiano Salim, Fábio Lucas, Idelfonso Bassani, José Mauro da Costa, José Paulo Cavalcanti Filho, Jussara de Queiroz, Laura Medioli, Olavo Romano, Petrônio Souza Gonçalves e Geraldo Amâncio Pereira. E os 3 ganhadores do Concurso Livro de Graça na Praça/Academia Mineira de Letras: Pedro Alberto Marangoni, Júlio Silveira e Adnelson Borges de Campos.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Paul Eluard: "Liberté" / "Liberdade: trad. de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade


Liberdade 


Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco de cada dia
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade

domingo, 6 de novembro de 2011

CAMINHANDO PELA IMATERIALIDADE

E naqueles passos dados,
Por um caminho que se enveredava
Em múltiplas direções,
O encontro dos delírios
E o falar das transgressões.
Aqueles que ali estavam
Ouviam o pronunciamento de várias línguas
E inúmeras palavras eram criadas,
Mas as palavras jamais esgotavam
O incessante transbordar dos sentimentos.
Uma das trilhas levava a uma ponte
Onde sonho e realidade se misturavam,
E a beleza era tanta que os corpos pareciam não aguentar,
Sentindo uma imensa necessidade de
Transmiti-la a outros corpos.
E, ao olhar para o horizonte,
Nessa relação entre o ser e o objeto,
Avistaram, num momento utópico,
Um terceiro homem, que vivia entre dois mundos.
Depois, uma terceira margem, ainda oculta.
Por último, os rascunhos de uma terceira obra,
Que jamais será escrita.

Christian Coelho

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O PROFISSIONAL DA MEMÓRIA

Passeando presente dela
pelas ruas de Sevilha,
imaginou injetar-se
lembranças, como vacina,

para quando fosse dali
poder voltar a habitá-las,
uma e outras, e duplamente,
a mulher, ruas e praças.

Assim, foi entretecendo
entre ela, e Sevilha fios
de memória, para tê-las
num só e ambíguo tecido;

foi-se injetando a presença
a seu lado numa casa,
seu íntimo numa viela,
sua face numa fachada .

Mas desconvivendo delas,
longe da vida e do corpo,
viu que a tela da lembrança
se foi puindo pouco a pouco;

já não lembrava do que
se injetou em tal esquina,
que fonte o lembrava dela,
que gesto dela, qual rima.

A lembrança foi perdendo
a trama exata tecida
até um sépia diluído
de fotografia antiga.

Mas o que perdeu de exato
de outra forma recupera:
que hoje qualquer coisa de um
traz da outra sua atmosfera.

João Cabral de Melo Neto

Traduzir-se



Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Anoitecer

É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas, apitos
aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo

É a hora em que o pássaro volta,
mas de há muito não há pássaros;
só multidões compactas
escorrendo exaustas
como espesso óleo
que impregna o lajedo;
desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz - morte - mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.

Hora de delicadeza,
gasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.



Carlos Drummond de Andrade

No vosso e em meu coração


Espanha no coração:

No coração de Neruda,
No vosso e em meu coração.
Espanha da liberdade,
Não a Espanha da opressão.
Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!
Velha Espanha de Pelaio.
Do Cid, do Grã-Capitão!
Espanha de honra e verdade,
Não a Espanha da traição!
Espanha de Dom Rodrigo,
Não a do Conde Julião!
Espanha republicana:
A Espanha de Franco, não!
Espanha dos grandes místicos,
Dos santos poetas, de João
Da Cruz, de Teresa de Ávila
E de Frei Luís de Leão!
Espanha da livre crença,
Jamais a da Inquisição!
Espanha de Lope e Góngora,
De Góia e Cervantes, não
A de Felipe II
Nem Fernando, o balandrão!
Espanha que se batia
Contra o corso Napoleão!
Espanha da liberdade:
A Espanha de Franco, não!
Espanha republicana,
Noiva da Revolução!
Espanha atual de Picasso,
De Casals, de Lorca, irmão
assassinado em Granada!
Espanha no coração
De Pablo Neruda, Espanha
No vosso e em meu coração! 
Manuel Bandeira