sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Hotel Toffolo

E vieram dizer-nos que não havia jantar.
Como se não houvesse outras fomes
e outros alimentos.

Como se a cidade não nos servisse o seu pão
de nuvens.

Não, hoteleiro, nosso repasto é interior
e só pretendemos a mesa.
Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Reflexão sobre o teatro

"O teatro é isso: reproduz o gênero humano por isso torna-se abominável para olhos moralistas, assim como a cópula e o espelho." Jorge Luís Borges

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Noturno do Morro do Encanto

Este fundo de hotel é um fim de mundo!
Aqui é que o silêncio tem voz. O encanto
Que deu nome a este morro, põe no fundo
De cada coisa o seu cativo canto.

Ouço o tempo, segundo por segundo,
Urdir a lenta eternidade. Enquanto
Fátima ao pó de estrelas sitibundo
Lança misericórdia do seu manto.

Teu nome é uma lembrança tão antiga,
Que não tem som nem cor, e eu, miserando, 
Não sei mais como ouvir, nem como o diga.

Falta a morte chegar... Ela me espia
Neste instante talvez, mal suspeitando
Que já morri quando o que eu fui morria.

Manuel Bandeira